Umbanda
Umbanda[editar | editar código-fonte]
Principios de Umbanda[editar | editar código-fonte]
<img src="https://i.ibb.co/zsTvYqT/RITUAL-DE-UMBANDA.png" alt="RITUAL-DE-UMBANDA" border="0">
Introdução[editar | editar código-fonte]
Iniciamos nossa reunião falando sobre o que nos leva a entrar em uma casa de religião. Muitas pessoas ingressam por causa de um problema de saúde, outras, porque simplesmente gostam. Há também quem tenha nascido dentro da religião e, por isso, faz parte dela desde sempre. No entanto, todos estão unidos dentro da religião por um motivo: a mediunidade.
O que é a mediunidade? =[editar | editar código-fonte]
A mediunidade é uma capacidade natural, um dos sentidos inatos do ser humano, assim como a visão, a audição, o paladar, o tato e o olfato. Os sentidos são mecanismos que utilizamos para perceber e receber estímulos do mundo exterior. Dessa forma, a mediunidade é a capacidade de entrar em contato ou “alcançar” aspectos do mundo espiritual. Muitas vezes, ela se utiliza de nossos outros sentidos para intermediar esse contato.
Há pessoas que nunca receberam uma entidade, mas possuem uma mediunidade latente. Trata-se de uma faculdade humana, algo com o qual nascemos, e ela pode se manifestar de várias maneiras, tais como:
- Méduins Sensitivos: Sentem a presença dos espíritos através de uma impressão vaga ou de um toque sutil sobre seus membros. Todos os médiuns são sensíveis, mas alguns têm essa faculdade mais desenvolvida.
Exemplo: Sensação de calafrio ou pressão em determinadas áreas do corpo.
- Méduins Audientes: Ouvem vozes dos espíritos, que podem se manifestar de forma interior (de forma telepática) ou exterior (como se fossem vozes físicas).
Exemplo: Ouvir claramente instruções ou mensagens de entidades espirituais.
- Méduins Videntes: Têm a capacidade de ver espíritos e eventos além do alcance dos sentidos físicos. A visão pode ocorrer com os olhos abertos ou fechados.
Exemplo: Ver espíritos como se fossem figuras físicas presentes.
- Méduins Clarividentes: São aqueles que têm a capacidade de receber mensagens em momentos de transe ou durante o sono, como em sonhos.
Exemplo: Ver aparições ou ter visões de eventos passados ou futuros durante o sono ou em estados de transe.
- Méduins de Cura: Utilizam a energia espiritual para curar doenças físicas e espirituais por meio do toque, olhar ou métodos energéticos. São também conhecidos como "rezadores" ou "benzedeiras".
Exemplo: Sessões de cura espiritual ou imposição de mãos para tratar enfermidades.
- Méduins Psicógrafos: Escrevem mensagens espirituais de forma inconsciente, recebendo informações diretamente dos espíritos.
Exemplo: Produzir textos ou cartas contendo informações que o médium não possuía previamente.
- Méduins Intuitivos: Recebem pensamentos ou inspirações dos espíritos de maneira espontânea e intuitiva. A intervenção espiritual é menos evidente, mas o médium percebe que esses pensamentos não são seus.
Exemplo: Ter ideias ou soluções que parecem vir de uma inspiração repentina.
- Méduins Incorporação: O médium que serve como receptáculo para um espírito ou entidade, permitindo que se manifeste por meio de seu corpo.
Exemplo: Um médium de Umbanda recebendo seu Caboclo durante a corrente.
- Méduins de Passagem: Esse tipo de médium tem a facilidade de transportar ou absorver energias e cargas energéticas.
Exemplo: Quando o médium sai "carregado" de um lugar onde a energia é considerada "pesada".
A mediunidade é como uma porta aberta, e nunca sabemos o que pode haver do outro lado dessa porta. Assim como em sua casa, onde é preciso ter cuidado com a segurança e não permitir que qualquer um entre e faça o que quiser, o mesmo acontece com sua espiritualidade. Manter essa "porta" aberta permite exercitar e evoluir sua espiritualidade, mas, em contrapartida, é necessário que alguém se responsabilize por cuidar dela.
Essa "defesa" na entrada de nossa espiritualidade é responsabilidade tanto do próprio médium quanto de suas entidades. Para fazer sua parte, o médium deve estar atento às práticas que podem torná-lo vulnerável a influências danosas, como:
- Ingestão de bebidas alcoólicas e drogas de qualquer tipo.
- Hábitos que geram energias negativas, geralmente impulsionadas pela vaidade, inveja, rancor e tristeza.
- A má prática dos preceitos religiosos, entre outras inúmeras formas que podem comprometer a segurança de sua espiritualidade.
O que é o mundo espiritual?[editar | editar código-fonte]
O mundo espiritual é um plano paralelo ao nosso, um plano abstrato que não está ao alcance de nossos sentidos humanos comuns, exceto pela mediunidade. Apenas a mediunidade nos proporciona a capacidade de interagir diretamente com o mundo espiritual por meio de nossos sentidos. A mediunidade é, portanto, a capacidade que temos de abrir uma "janelinha" ou uma "porta" de interação e comunicação com o mundo espiritual.
Nesse plano, encontram-se os espíritos das pessoas que já faleceram e também das que ainda vão nascer dentro do nosso ciclo cármico. Embora essa seja uma definição bastante simplificada, ela nos ajuda a ter uma noção geral. Lá, existem espíritos de luz, evoluídos e com grande entendimento. Contudo, também existem espíritos que não possuem essa mesma energia, que passaram para o outro lado carregados de sentimentos negativos, como raiva, desgosto e inveja.
Esses espíritos, presos a esses sentimentos que os ancoram à Terra, não conseguem alcançar uma frequência vibratória de luz e paz.
Há níveis de evolução espirituais muito inferiores e anteriores ao nosso. Um exemplo é o Umbral, um "local" onde espíritos se reúnem por motivos que, geralmente, não são nobres. Isso se reflete em todos os aspectos desse espírito, inclusive em seu perispírito (a forma que assumem), que pode se transfigurar em figuras deformadas, amorfas, ou assumir características de animais, insetos, vermes, etc. Eles se expõem a essa condição porque continuam carregando dores e necessidades humanas.
Um exemplo mais simples de compreender seria o de uma pessoa que desencarnou em um acidente e teve uma perna amputada no momento da fatalidade. Enquanto esse espírito não se der conta de que desencarnou, ele continuará se sentindo impossibilitado de se deslocar devido à falta do membro, sem perceber que, no estado espiritual, o ato de caminhar já não é mais necessário.
A diferença entre estar vivo e estar morto é o corpo, pois a nossa consciência continua existindo. Dentro da nossa consciência, em nossos pensamentos, guardamos todas as emoções: alegria, tristeza, felicidade, inveja, entre outras. É exatamente por isso que, muitas vezes, são os sentimentos que têm o poder de nos ancorar a este plano.
Nesse contexto, é que se origina o conceito de egun. São espíritos que passam para o outro lado já perturbados, carregando a sensação de terem deixado "assuntos mal resolvidos" ou se encontrando cativos a algum tipo de vício, que, muitas vezes, foi a causa de sua morte.
Na Umbanda, assim como no espiritismo em geral, a linha de trabalho foca na purificação de energias e no resgate desses espíritos através da caridade espiritual. Há um trabalho de acolhimento e conscientização, mostrando a esses espíritos que há caminhos melhores a seguir, o caminho do bem, da verdade e da luz. É um processo de deixar para trás instintos, vontades, vaidades e vícios. Esse método é bem distinto de algumas práticas que já ouvi falar, onde os eguns são subjugados, ridicularizados ou até mesmo agredidos fisicamente (como se isso tivesse algum efeito sobre um espírito).
Quando se lida com um espírito que tem menos entendimento, é necessário adotar uma postura baseada na calma, empatia e humildade, com uma voz suave, mas firme, assegurando uma "superioridade moral". Essa superioridade moral é distinta de uma superioridade opressora ou repressora. A atitude correta será decisiva nesses casos.
Por que “Umbanda”?[editar | editar código-fonte]
A etimologia da palavra “Umbanda” vem de “Um” (Deus o único arquiteto do universo) e “banda” que significa “turma” ou “grupo”. A interpretação literal do significado da palavra seria algo como: “A banda do Um” ou adaptativamente “O povo que segue ao Deus único” assemelhadamente.
A história que temos nos remete a data de 15 de Novembro do ano de 1908 quando dentro da Federação espírita do Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Niterói manifestou-se no médium Zélio Fernandinho de Moraes uma série de espíritos ancestrais como caboclos e pretos velhos.
Esses espíritos foram acolhidos, mas não tão bem recebidos quanto se imaginava. O dirigente da sessão na ocasião teria classificado-os como “atrasados” denotando uma visão eurocêntrica e preconceituosa sobre tudo aquilo que não tivesse raízes europeias. Solicitou então que eles se retirassem. Neste momento houve a manifestação de um espírito que se autodenominou “Caboclo das Sete Encruzilhadas” que saiu em defesa destes espíritos considerados inferiores declarando que se ali não houvesse espaço e respeito para que eles pudessem cumprir a sua elevada missão então eles migraram para uma nova doutrina.
A senda declarada pelo Caboclo Sete Encruzilhadas teve início na da casa do médium Zélio na Rua Floriano Peixoto, Bairro Neves, no município de São Gonçalo/RJ. Não obstante podemos associar este caboclo ao primeiro Exú de Umbanda, vista que o principal papel de Exú é a abertura de caminhos e este deu o passo inicial para o nascimento da Umbanda.
Em seguida iniciou-se de forma gradativa a abertura das “Tendas de Umbanda” em diversos lugares. A Umbanda, mesmo em si, iniciou-se no século 18 antes dela já ocorriam outros cultos espiritualistas, como o “Catimbó”, “Macumba”, “Xangô”, “Juremá” e o “Calundu” o que culminaram no ocorrido no dia 15 de novembro. Entretanto as bases da nossa doutrina estão arraigadas na ancestralidade fato em comum com a Nação dos Orixás.
O que é ancestralidade?[editar | editar código-fonte]
A palavra "ancestralidade" deriva de "ancestral", que se refere àqueles que já não estão no plano físico, encarnados, mas que em seu tempo foram pessoas que viveram, cultuaram e amaram nossa religião. Pelo espírito de união, foram levados para o Orum (plano espiritual) e, de lá, acompanham nossa evolução, intervindo quando necessário.
Tanto os indígenas, que já habitavam o Brasil antes mesmo do "descobrimento", quanto os negros trazidos da África, seguiam em suas culturas religiosas o culto aos ancestrais. Hoje, esses indígenas e negros compõem a nossa égide de ancestrais — espíritos que, em vida, possuíam sentimentos puros e, ao passarem para o outro lado, aprenderam, dentro de uma linha da Umbanda, a trabalhar, a se iluminar e a iluminar o próximo, sempre seguindo a lei maior do amor.
Posteriormente, são oportunizados a retornar ao nosso mundo para participar do que chamo de "plano do mundo espiritual".
Há um plano espiritual composto por grupos de espíritos evoluídos e iluminados, cujo propósito é auxiliar todos aqueles que precisam de acolhimento, seja encarnado ou desencarnado, por meio da caridade espiritual. Um dos meios mais diretos e notáveis de manifestação desses espíritos na Terra é através da incorporação (manifestação) em seus médiuns. O médium cumpre um papel importantíssimo ao servir como elo material, sendo o suporte físico e o instrumento para que esses espíritos elevados possam trazer conforto, uma palavra amiga, um conselho ou um acalento.
No entanto, essa prática exige preparação e, acima de tudo, comprometimento do médium. A disciplina e o compromisso assumidos incluem estar presente no dia, hora e local combinados, uniformizado, com o corpo limpo e a mente pura, aguardando a entidade. Essas práticas facilitam o contato e a adaptação tanto da entidade com o seu médium quanto do médium com a entidade.
Ainda existe "Umbanda Pura"?[editar | editar código-fonte]
Comumente chamada de "Umbanda de Zélio".
A Umbanda que começou lá em 1908 é a mesma de hoje? Existe uma "Umbanda pura"? A resposta mais direta é: não. É praticamente impossível encontrar, hoje em dia, uma casa de espiritualidade que siga exatamente a mesma tradição da primeira casa de Umbanda. Essas casas podem, sim, ser devotas e seguir as tradições de seus ancestrais ou de sua "Goa" religiosa, mas serem idênticas às práticas de 1908 é pouco provável. No entanto, todos os Centros de Umbanda seguem a mesma doutrina espírita e os mesmos fundamentos que sempre existiram. Da mesma forma, a Nação dos Orixás também passou por variações ao longo do tempo, diversificando-se e fundindo-se com outras tradições milenares da África até chegar ao ponto que conhecemos hoje.
Ainda assim, mantemos os mesmos princípios religiosos, os mesmos orixás e os mesmos ancestrais da religião trazida da África. A Umbanda, assim como outras tradições, evolui e se adapta, mas os seus fundamentos permanecem intactos.
Como funciona a incorporação?[editar | editar código-fonte]
O espírito que chega ao nosso corpo durante uma incorporação não é o orixá propriamente dito, mas sim um enviado daquele orixá. Trata-se de um espírito que foi iluminado pela energia daquele orixá, aprendeu a trabalhar na sua linha e, muitas vezes, por gratidão, adota a forma e se transfigura na imagem do orixá para poder se manifestar no mundo. Por exemplo, muitos pretos velhos que trabalham nas casas de Umbanda hoje, quando estavam vivos, nem sempre eram negros.
No entanto, tiveram uma história de vida ligada a pessoas negras, onde muitas vezes foram socorridos, acolhidos e ensinados por espíritos negros. É importante lembrar que espírito não tem cor, mas pode manter resquícios de forma em seu perispírito.
Por que, então, esses espíritos se apresentam como pretos velhos? Durante sua estadia em uma colônia espiritual, esses espíritos aprenderam com os anciões o valor do trabalho e da verdade contida na falange dos pretos velhos. Assim, um dia, eles tiveram a oportunidade de assumir essa forma, reconhecendo a sabedoria e a força dessa falange, e retornam ao mundo dos encarnados com esse aspecto para dar continuidade ao trabalho.
Ao ser permitido que o espírito venha à Terra com frequência para se manifestar e trabalhar, ele também passa por um período de aprendizado. O espírito precisa aprender a controlar o corpo físico, a lidar com o tempo (algo que não é natural para eles), a se identificar e a adotar bons costumes e práticas. Isso inclui evitar o uso de palavras de baixo calão e não assumir posturas que possam atrapalhar o andamento dos trabalhos ou a evolução espiritual dos demais.
O espírito deve aprender que, ao chegar aqui, precisa realizar determinadas ações para se identificar. É necessário ter um nome, escolher uma forma de trabalho e definir uma linha espiritual para atuar. Assim, há todo um processo de preparação pelo qual o espírito passa semelhante ao processo que nós, médiuns, vivenciamos para nos integrar à religião. O espírito também precisa passar por etapas até estar apto a se manifestar em um médium e realizar o trabalho espiritual.
Nesse processo, o espírito aprende o que significa se manifestar em alguém, a controlar a conexão com o corpo físico, a lidar com o tempo, e a compreender que, para atuar, ele precisa estabelecer uma identidade clara e um propósito de trabalho. Esse caminho de aprendizado é fundamental tanto para o espírito quanto para o médium, pois ambos devem estar em sintonia para que a manifestação ocorra de maneira adequada e produtiva.
Os orixás da Nação são os mesmos da Umbanda?[editar | editar código-fonte]
Sim. E por quê? O orixá possui sua “universalidade”. Por exemplo, o orixá na Bahia é o mesmo que temos aqui. Algumas exceções podem ser notadas no número de divindades ou em variações de nome, que podem ocorrer devido às diferentes linhas e culturas das religiões africanas que foram para lá, originárias de locais distintos da África, em comparação àquelas que chegaram aqui ao Sul do Brasil. No entanto, o orixá é o mesmo em qualquer lugar do infinito. O orixá representa a pedra, a água, o vento, a planta, a comida... Ele é a natureza e tudo aquilo que dela extraímos. Repare bem ao mundo ao seu redor e peceba que tudo que temos e que consumimos vem ou vinha da natureza. O orixá não é apenas uma figura; ele é a essência. Não há como mensurar a força de um Orixá. Nós personificamos o orixá por questões estéticas ou psicológicas, uma manifestação do inconsciente. Mas, em sua essência, o orixá é abstrato; é uma força, é luz. É a energia que foi utilizada para criar nosso mundo e que existia muito antes do homem surgir na Terra.
Por consequência, nós também somos fruto da energia e do amor dos Orixás. A ancestralidade nos proporciona a oportunidade de receber e compartilhar nosso conhecimento de forma oral falando e ouvindo, contando histórias e lendas representando a resistência e a propagação da nossa cultura, impedindo que ela se perca no tempo, como aconteceu com tantas outras.
Como não há registros escritos (e os que existiram foram deturpados, censurados e suprimidos durante períodos de escravidão ou pela imposição do Eurocentrismo), a nossa “bíblia” se encontra na presença dos espíritos e na cultura oral.
A Mãe Natureza é a nossa principal fonte de trabalho e inspiração na religião. Basta refletir sobre isso: tudo que fazemos, tudo que compramos, o que cozinhamos e oferecemos ao orixá e ao povo da religião desde um grão de milho até as vísceras do animal que é sacrificado para realizarmos nossas obrigações é extraído da natureza e, por fim, retorna a ela. Assim como nós, que um dia viemos ao mundo através da natureza e, um dia, voltaremos para ela.
Por que eles nos ajudam?[editar | editar código-fonte]
Não somos apenas nós que nos beneficiamos com a presença e a influência desses trabalhadores do bem. O reconhecimento de seu trabalho e da evolução que eles alcançam (e que também nos alcançam) confere-lhes um certo prestígio. Assim como nós, encarnados, sentimos alegria quando somos reconhecidos e parabenizados pelo nosso bom desempenho profissional, eles também recebem elogios e são aclamados por espíritos superiores ao cumprirem suas atribuições.
Além disso, há a luz e o entendimento que eles alcançam a cada “missão” realizada na Terra, juntamente com a alegria de ver os benefícios concretizados.
Culturas Diversas[editar | editar código-fonte]
A Umbanda tem como princípio ser aberta a todas as culturas existentes, em qualquer lugar e de qualquer tempo. Essa aceitação está intrinsecamente arraigada no cerne da nossa cultura, considerando que ela própria teve que trilhar sua história em meio a episódios de intolerância.
Graças a essa abertura e à absorção de costumes, práticas e energias de outros povos, a cultura da Umbanda se tornou amplamente diversificada. Apesar de ter surgido no início do século XX, a Umbanda incorpora a cultura africana (na ritualização dos orixás), bem como as culturas indígenas, oriental, cigana (Romani) e muitas outras de origem milenar. Destaca-se nesse ímpeto a cultura negra, por exemplo, que foi vilipendiada, diminuída e suprimida por muito tempo, mas possui registros de avanços civilizatórios que datam de 30 a 40 mil anos antes de Cristo. Portanto, podemos concluir que, muito antes de sermos direcionados a aprender sobre nossa história no formato acadêmico atual, ensinado nas escolas e nas igrejas, essa história já era permeada por avanços tecnológicos, medicinais e espirituais oriundos da cultura africana.
A partir disso, foi fundamentado que a Umbanda seria uma porta aberta para todos. Qualquer espírito pode se manifestar dentro da linha da Umbanda, desde o espírito mais elevado até os mais atrasados. A Umbanda acolhe espíritos de todos os tipos: crianças, índios, negros, orientais, ciganos, exus, entre outros.
Sincretismo Religioso[editar | editar código-fonte]
Porquê temos imagens de santos católicos na Umbanda?
O sincretismo religioso foi um artifício encontrado pelos escravizados para preservar sua cultura e fé. Com a supressão da cultura negra e a proibição do culto aos orixás, que eram associados a demônios, surgiu à necessidade de continuar a celebração de suas crenças.
Para isso, os escravizados associaram os orixás a santos católicos que possuíam características semelhantes. Por exemplo, se a ideia era cultuar um orixá representado por uma pedra (okutá), essa pedra era enterrada e sobre ela era montado um altar com a imagem do santo católico que mais se assemelhasse a esse orixá. Assim, homenageava-se Ogum através da imagem de São Jorge, que é um guerreiro, lutador, apresentando-se sobre um cavalo, empunhando uma espada e um escudo.
Hoje, o sincretismo religioso é criticado por alguns estudiosos como uma prática que ainda sufoca nossa verdadeira cultura. Outros, por outro lado, acreditam que ele serve para integrar e facilitar a compreensão da religião, principalmente para aqueles que são estranhos à nossa doutrina.
12 As Sete Linhas da Umbanda[editar | editar código-fonte]
Todo umbandista deve ter a guia das sete linhas da Umbanda, composta por sete contas de sete cores diferentes. Cada cor representa uma linha da Umbanda, assim como sua força e energia.
Embora possam existir variações, as cores e suas correspondências são as seguintes:
- Linha do Maioral – Branco: Oxalá e os espíritos mais elevados.
- Linha das Águas – Azul: Oxum, Iemanjá e todos os espíritos cuja força provém da água.
- Linha das Crianças – Rosa: Erês ou dos Cosme e Damião.
- Linha dos Ancestrais – Amarelo: Pretos Velhos, as Almas e todos os ancestrais.
- Linha do Fogo – Marrom: Linha da Justiça de Xangô, Iansã e demais entidades de fogo e vento.
- Linha de Trabalho – Vermelho: Linha de Ogum ou "de demandas".
- Linha das Matas – Verde: Oxóssi, Jurema e outros espíritos da Mata que trabalham com a cura.
Com o desenvolvimento mediúnico, é possível que, ao longo da evolução do médium, se manifeste uma entidade de cada linha da Umbanda. Contudo, apenas uma delas (geralmente a que se manifesta primeiro) recebe o título de “frenteira” ou “principal”. Esta entidade é a primeira a chegar, assume a responsabilidade pelo médium e dá passagem para as demais.
O Exú na Umbanda[editar | editar código-fonte]
E o Exú? Essa entidade tão controvérsa não teria o seu lugar também? Qual é o papel dessa entidade na Umbanda?
Nos primórdios da nossa religião, o Exú era uma entidade que fazia parte da egrégora do terreiro, responsável por lidar com toda a energia negativa acumulada no ambiente ou retirada das pessoas que ali estiveram especialmente ao final da sessão. A ele também era confiada a segurança espiritual da “porteira” ou portão da casa e do pátio. Não se tratava de um “serviçal”, mas sim de um espírito que contribuía de maneira apropriada, lidando com as energias mais densas.
As manifestações de Exú durante as sessões eram curtas e rápidas, pois sua linha de trabalho não se assemelhava muito à dos demais espíritos que atuavam no mundo, como Caboclos e Pretos Velhos.
Entretanto, sua contribuição permanece essencial até os dias de hoje, especialmente no que diz respeito ao “descarrego”.
Com o passar do tempo, seguindo o caminho natural da Umbanda que é a luz e o caminho da evolução, os Exús conseguiram trilhar seu próprio caminho e estabelecer uma linha de trabalho desagregada, que chamamos de “Quimbanda”.
Hoje, o Exú continua cumprindo a mesma função? Sim. Ele ainda realiza essa atividade por sua natureza. No entanto, o aprimoramento que alcançam lhes capacita a lidar melhor com os acontecimentos, aproximando-se mais das características humanas, conquistando prestígio e luz em suas atribuições. Podemos afirmar que, atualmente, o Exú pode ser encarado como um “amigo” ou “compadre”, como é comumente chamado. Ele é um guardião da sua espiritualidade e da sua integridade física, pois se encontra em um patamar mais próximo à nossa dimensão.
Eles se mostraram merecedores e conquistaram seu espaço.
E os ciganos?[editar | editar código-fonte]
E os ciganos, em qual parte entram?
Anteriormente, os ciganos compunham a orda dos espíritos orientais. Com o evento da separação entre a Umbanda e a Quimbanda, alguns deles optaram por trabalhar juntamente com os Exús, enquanto outros permaneceram na linha da Umbanda. Por isso, hoje podemos lidar com Ciganos e Ciganas de ambos os lados, tanto em contextos de luz quanto em contextos que envolvem as energias mais densas.
A Umbanda hoje[editar | editar código-fonte]
A Umbanda hoje é uma religião de matriz africana, reconhecida por lei.
Seguindo uma certa linha do tempo nas leis que nos amparam, temos:
- A Constituição Federal de 1988 (Art. 5º incisos VI, VII e VII): que garantem a liberdade de cultos religiosos de forma irrestrita
- O Estatuto da Igualdade Racial de 2009 (Capítulo III, Art. 25, inciso II) garantindo “a celebração de festividades e cerimônias de acordo com os preceitos de religiões afro-brasileiras”.
- A Lei 12.644, de 16 de maio de 2012: oficializou a Umbanda como religião no Brasil e instituiu o Dia Nacional da Umbanda, que é comemorado anualmente no dia 15 de novembro.
Limpeza da fim de ano[editar | editar código-fonte]
Material[editar | editar código-fonte]
- Milho torrado; - Pipoca; - 3 Batatas assadas; - Uma rosa vermelha; - 1 Vassoura de pano (7 cores) ou de guanxuma; - 7 Varas de Marmelo; - 8 Velas Brancas; - 1 Fita branca; - 3 Espadas de São Jorge; - 3 Espadas de Santa Bárbara; - 1 Gamela de Frutas; - Perfume ou Fluído; - Água; - Pólvora; - Papel Vermelho; - Fita Verde; - Alguidar; - Ervas para Amaci; - Cordão para a marcação.
Procedimento[editar | editar código-fonte]
- Faça um pacote com o milho, pipoca, batata e a rosa. Feche e enrole no papel vermelho.
- Amarre as 3 espadas de São Jorge na pate onde seria a empunhadura da espada com a fita verde. O mesmo com a espada de Santa Bárbara.
- Amarre as 7 varas de marmelo da mesma forma, com cordão normal.
- Amarre as 8 velas brancas com a fita branca
- Faça um Amaci com as Ervas sagradas no alguidar e coloque os cordões de marcação dentro.
Disponha na frente do congal, lado a lado, nessa ordem:
1. Pacote vermelho. 2. Espadas de São Jorge. 3. Espadas de Santa Bárbara. 4. Varas de Marmelo. 5. Vassoura de Pano (ou Guanxuma). 6. Gamela de frutas. 7. Velas Brancas. 8. Perfume ou Fluído. 9. Alguidar com a marcação.
Passa-se a limpeza nessa mesma sequência, no fim, coloca a marcação onde a pessoa preferir ou corta um pedaço para a pessoa levar.
No fim, ao levantar a limpeza, estoura um ponto de Pólvora na entrada da casa.
Materiais de Apoio e Consulta[editar | editar código-fonte]
- Constituição Federal (Brasília, 5 de Outubro de 1988). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
- Estatuto da Igualdade Racial (Brasília, 20 de Julho de 2008-2010). https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1831258
- Lei 12.644 (Brasília, 16 de maio de 2012) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12644.htm
- Afrobrás https://www.afrobras.org